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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Parte IX

Parte 9 - Prisão e o "peão que atingiu a oitava casa"

P - Um episódio da história da militância do senhor no xadrez é contado no livro e foi quando encontrou o Lula?

HC - Isso.

P - Gostaria que o senhor falasse um pouco mais sobre esse episódio.

HC - É. Foi na Praça Antonio Prado, no Centro de São Paulo, o Lula e os outros membros da diretoria do Sindicato de São Bernardo estavam presos. A greve estava sendo brutalmente reprimida e então minha esposa era bancária e militava no Sindicato dos Bancários. E eu dava aulas de xadrez no Sindicato dos Bancários. E eu dava aulas de xadrez no Sindicato dos bancários e a gente usava o xadrez, inclusive, nas campanhas de filiação do Sindicato, porque o xadrez era um elemento muito interessante, porque ele atraía um nível mais sofisticado de bancários: os gerentes e tal. Você ia numa agência falar de xadrez, os gerente não te punham para fora, eles se interessavam. Estávamos dando essas aulas no Sindicato, um dia lá determinado a diretoria estava discutindo como os bancários podiam manifestar solidariedade aos metalúrgicos. Eu falei: vamos fazer uma simultânea de xadrez na Pça Antônio Prado. Aí eles toparam na hora. Nós fomos para lá, começou às 11h da manhã, quando foi 1 hora da tarde já estava no final, a simultânea. Foi curioso porque só faltava uma partida. E nessa partida o rapaz já estava com 4 peças a menos e não desistia. Ele falou, depois pra gente, quando estava na cadeia, que ele não queria desistir, que ele queria que demorasse mais para que o ato político continuasse. Mas o em fato que esse período que demorou foi quando a polícia chegou.

Herbert sobre Lula: “Se você quiser usar uma imagem do xadrez, ele não deixa de ser um peão que chegou a 8ª casa e acabou se corando dama. É o caso do peão que chegou a presidência da República”
e nós fomos presos. E fomos 3 presos, quer dizer: eu, ele que estava jogando comigo e o (Luiz) Gushiken

que hoje é Ministro (em 2005), presidente do Sindicato (na época), com o megafone na mão, gritando “abaixo...”.... “xeque-mate na ditadura”, essa coisa toda (risos). Aí nós fomos à delegacia e fomos lá indiciados pela Lei de Segurança Nacional. Aí foi uma coisa curiosa, porque já era meio fim, assim, da ditadura, e você tinha o regime, não é? Forte, mas não havia tortura, por exemplo, esse tipo de coisa não houve. Nós ficamos presos. Isso foi uns dias antes do 1º de maio. Nesse dia, o Maluf era o governador do Estado, eu me lembro disso, no dia 1º de maio ele mandou servir feijoada, uma comida melhor lá para os presos. Comemos feijoada, cantamos músicas de 1º de maio e tudo. E teve uma extraordinária passeata dos operários em greve, em São Bernardo, eles enfrentaram a Polícia, conseguiram ocupar o Estádio. Quer dizer, a polícia e o exército, helicóptero e tudo e fizeram a passeata lá. E... nesse momento eu não cheguei a ver o Lula diretamente, não. Um dia, no banho de sol, no pátio, o Gushiken conversou com ele já discutindo a formação do PT (Partido dos Trabalhadores), que foi formado naquele ano, como que ia ser, o núcleo dos bancários, esse tipo de coisa, entendeu? E foi assim, não é? Se você quiser usar uma imagem do xadrez, ele não deixa de ser um peão que chegou a 8ª casa e acabou se coroando. É o caso do peão que chegou a presidência da República.

Um comentário:

  1. Renan, tudo bem?
    Publique algo acerca da sua participação no torneio Interequipes.
    Abraço!

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